quarta-feira, 17 de junho de 2009

Roquinho o Pai da Cais e sais...


OVERDOSE

Cal Ribeiro/ Enoch Carneiro




Punhal dos meus sentidos
Amor descomedido
Minha overdose
Venha antes que o dia
Me coloque em sintonia
Com a voz da solidão

Marca-passo da tristeza
Brilho, sedução e frieza
Nuvem feita de algodão
Folha encharcada de orvalho
Polda brava sem chocalho
Santa inspirada no cão

Musa retilínea e perigosa
Fruta doce venenosa
Me assusta o teu manto, o teu véu
É um anjo preso em meu inferno
És um diabo solto no meu céu.

SHORT EM PERNA-DE-PAU


Cal Ribeiro e Goulart Gomes


Lima é do Peru
a Suíça é uma Berna
Hércules e a Hidra de Lerna
Washington tomou sumiço
a Suíça é do suíço
e se o Japão é que é bom
Caracas, leve-lhe o som!

Português não é baiano
Brasília é mulher do Brasil
caçarola e Kibom Bril
vizinho chapéu de touro
mulata de filho louro
King Kong fica na China
Buenos Aires, Argentina

Te adoro, besame mucho
y Colômbia cana dá
madrileñas de Paquetá
un abrazo, Marijuana
charutos Fidel, de Havana
e a fruta que Paris
Coréia, sejas feliz

Angola na minha orelha
Roma pra lá que eu vou
pinga boa é a de Moscow
tô Zurich da vida
castanholas de Chiquita
México mas seguras
pelas bolas de Honduras

Na Europa Ocidental
tem tarado furando o muro
short em perna-de-pau
se Berlim é capital
Salvador é meu futuro
inda mais que ando duro
mão no bolso e sonrisal

terça-feira, 16 de junho de 2009

Bate bola com a Cais e sais





















Que tipo de música a banda toca?

A proposta da Cais e Sais é tocar todos os estilos musicais sem perder sua própria essência e ao mesmo tempo, sem ferir a essência das canções escolhidas.


Quais são as influências da banda?
As movimentações musicais brasileira deixaram marcas em todos nós. Citamos alguns representantes dessas movimentações que, sem dúvida, nos influenciaram/influenciam: Luiz Gonzaga e Jackson do Pandeiro, Caetano Veloso e Gilberto Gil; Chico Buarque, Edu Lobo e Tom Jobim; Milton Nascimento, Lô Borges e Beto Guedes,
Oficina G3, Tom Jobim, Take6, Los Hermanos Chico Science, Lenine e outros.
Sem sombra de dúvida a Cais e Sais é o resultado de tudo isso. Tudo isso registrado,
gravado nas mentes e músculos, auditivos ou não, de cada componente que,
misturados, deu-se nesse resultado de som e texto.


Quando a banda toca, quais as sensações que vcs querem despertar no público?

A Cais e Sais quer atingir o público penetrando pelos sete buracos das suas cabeças (parafraseando Caetano).
A Cais e Sais entende que música deve ser sentida em todas as suas dimensões e
para isso, é necessário que o som produzido roube toda a atenção do público para
que cada um da platéia se sinta único e cante conosco nos
movimentos corporais. A Cais e Sais quer levar o público a refletir e com isso, levar
o show para casa.


Porque o nome Cais e Sais?

Cais e Sais pode ser plural de cal e sal. O cal que constrói e equilibra o sal que
amortece e desafina “são formas com que lidamos nas nossas inquietudes na prática
e na vivência, nas nossas experiências” . Também é resultado de combinações de
sentimentos pueril e maduro no mesmo som, tempo e lugar. Cais e Sais é um corpo
repleto de alma, é arte.


Qual a história da banda? Como surgiu?

Surgiu no sonho de fazer música de forma diferente que tocasse as pessoas depois de tocar os músicos, num processo de dentro para fora.
Surgiu na vontade de mudar um pouco o cenário baiano, mas não sendo o primordial.
Surgiu, então, pela vontade de fazer música pela força que isso tem e pela emoção que isso pode nos trazer e compartilhar.


Se vc fosse convencer alguém para ir a um show do Cais e Sais qual seria o argumento?

Vai lá se surpreender com a originalidade da Cais e Sais. Só não vá na expectativa de encontrar um som padronizado. Participar da realização de um projeto plural; reavivar a sonoridade e as vibrações da música com o corpo, com a alma; abrir o coração para alegrar-se, torcer e emocionar-se com cada passo juntos dados.

Dilton Borracha


Gustavo Barros

Curso livre de violão clássico na UFBA. 1º lugar no Festival de Música do SESI.

Cal Ribeiro


Cal Ribeiro por Alberto Freire

O músico baiano Cal Ribeiro já está na estrada há muito tempo. No entanto, cada vez que ele resolve parar de compor suas canções e recompor o repertório de outros músicos da MPB para fazer um novo show, fica no ar uma sensação de novidade que não se esgota.

A sua forma de interpretar as canções, consegue revelar surpresas a cada apresentação que decide produzir. E produzir parece ser a forma que ele reinventa para dar conta de suas múltiplas terefas no cotidiano, no equilíbrio instável entre uma jornada de trabalho convencional, como funcionário de uma empresa de petróleo e outra, com o restante do tempo que lhe sobra, como um operário da música.

nesses dois mundos, Cal convive com um universo de poetas e letristas que lhe abastecem de matéria-prima para o seu trabalho. É visível a tentativa de sua obra cantar um mundo menos voltado para o tangível e reverenciar uma perspectiva metafísica do universo, sem fazer disso um chamamento. Cal Ribeiro prefere seguir seu rumo com um olhar atento e o ouvido hiper aberto, apontando para múltiplas direções, de onde vem sua formação intuitiva.

Seu lado intérprete não lhe permite cair no lugar-comum de quem faz releituras ou interpreta standards da MPB com uma "nova roupagem" ou "nova pegada", como estamos acostumados a ouvir nas entrevistas dos chamados "novos talentos", que entram e saem das ondas de rádio ou dos sinais de TV, sem deixar rastros.

Cal Ribeiro não tem pressa, e talvez não tenha nem mesmo desejo de estrelato. por isso pode brindar seu público fiel com músicas que vão desde a idade de ouro da canção popular radiofônica, nos anos 40 e 50, até a contemporaneidade. Tudo isso sem a ansiedade de inserir reformas nos arranjos ou mesmo na interpretação. Por que a reforma, como nos ensinam os filósofos, é a volta a forma original. E na canção isso é um objetivo de alcance improvável.

A opção de Cal Ribeiro é pelo arranjo que transforma, ou seja, insere algo de singular ao já visto e ouvido, mas sem perder a referência dos mestres, jamais. Ouvi-lo interpretar Caymmi, Gil, Caetano, Johnny Alf, Paulo Vanzolini, Adoniran Barbosa ou um jovem compositor, é sempre uma oportunidade de escutar algo que nos escapou por um discuido nosso, ao longo do tempo. E Cal, como se entrasse em êxtase por meio da música, nos faz parar para ouvir um verso retirado com maestria e faz da repetição desse verso um mântra que nos leva a rever o som e o sentido.

A banda que lhe acompanha é também um conjunto de boas surpresas, com músicos recém entrados nos vinte anos, mas com umtalento que nos faz duvidar de suas idades cronológicas. O som que sai dos instrumentos, em solo ou em grupo, tem tanta maturidade que nos leva a perguntar: onde esses meninos aprenderam a tocar isso, e dessa forma?

Ao escrever essas impressões sobre o trabalho de Cal Ribeiro, lembrei de uma passagem, quando Tom Jobim escreveu o texto de apresentação na contracapa do primeiro LP de João Gilberto, Chega de Saudade, gravado em 1959. Ao final do texto, para inserir credibilidade ao que dissera de João, o jovem Tom escreveu "Caymmi também acha". Não sei o que vão achar do trabalho de Cal as nossas referências e reverências musicais quando ouvi-lo. Mas sei que já existe um público, de pessoas comuns e outras nem tanto, que acha sua música a síntese da sua história e trajetória no citidiano, por que Cal vive entre dois mundos, com um pé na indústria e outro na arte.

Comentário de Cal Ribeiro: gosto da leitura desse cara porque aceito que "o perfil não um bom ponto de vista). Obrigado mano Beto.

QUANTA-COISA


Cal Ribeiro e Goulart Gomes


A Ciência é o novo Deus da Civilização

Já não cremos na Filosofia

Ignoramos a Religião

Somos todos são-tomés

E toda a nossa fé sustenta-se numa equação.


Não preciso que um físico japonês ou alemão

Acelere uma partícula

Quebre o prótão e o neutrão

Para me provar que existe uma outra dimensão

Pois quando contemplo as estrelas(sóis perdidos na imensidão)

Sons dos astros me preenchem

E aceleram meu coração:


A razão não prova nadaS

ó aumenta a confusão.

Cercados de incertezas

Manipulamos a Natureza em busca de explicação:


Se eu modifico o fato
Nunca vou jogar os dados

Ele sabe o resultado, velocidade e posição.

Pode a probabilidade conviver com a exatidão?


Muitos Mestres já falaram

Muitos mais repetirão:

São infinitas as moradas

Escolha a sua mansão.

O VELHO ZECA


Cal Ribeiro e Paulo Dantão



Seu Zeca inventa a dança
Promete que avança
A mente se cansa
O corpo balança
E desaba no chão
No chão

Seu Zeca passa vick
E tenta um pique
Dá volta no Dique
Sente um tremelique
No tal coração
Coração

Seu Zeca não corre de briga
E cria barriga
E adora uma intriga
Quando vai pra liga
Do Calabetão
Betão

Seu Zeca conta história
Torce pro Vitória
Inventa memória
E tudo era glória
E o tempo era bom
Tão bom
Seu Zeca chega em casa
E não tem brasa
O churrasco atrasa
A mulher fuma um plaza
E não sai refeição
Sai não...

Seu Zeca se aporrinha
E vai pra cozinha
Belisca a galinha
E foge pra rinha
Com o galo na mão
Na mão...

Seu Zeca até faz fama
Conquista uma dama
No Politeama
E a leva pra cama
Cadê o tesão?
Tesão...

Seu Zeca não tem graça
Num banco de praça
Tragando a fumaça
Ou bebendo cachaça
Num velho balcão
Balcão.

O AMOR E O APEGO


Cal Ribeiro e Bené Lins


Um raio clareia, seduz, ilumina,
Mostra o caminho a percorrer.
Mas olhar pra ele cega,
A visão na trilha é o que devemos ter.

O amor é raio, luz diamantina,
Pura essência do viver.
Quem olha pra ele se apega,
Na ilusão do arco-íris que se vê.

Amar é verbo intransitivo,
Apegar-se é possessivo.

O amor é transparente, inteligente, sente.
O apego é pra carente, usa a mente, mente.
O amor está além da razão, é essência.
O apego está na emoção, é aparência.

O amor é verso, é a verdade,
O apego, inverso, é saudade.
O apego se vai, chorando,
Enquanto o amor sempre vem, sorrindo.

Quem ama é amante,
Quem se apega é amador.
O amor é transbordante,
O apego traz a dor.

Apegar-se é ter algum,
Amar é ser um.

NÓS IN NÓS


Cal Ribeiro e Bené Lins


Luz de mil sóis,
A consciência se faz em nós.
Qual rio, que vira mar na foz,
O real desata, desfaz os nós.

A paz em nós se faz a sós.
Em todo silêncio há uma voz,
E na unidade que flui após,
Uma certeza: d’eus se faz nós.

Unidos em muitos nós,
Nós não estamos sós.
Não há vítima ou algoz,
E nem há contras ou prós.

O nós é feito d’eus.
O delas, o deles, os seus, os meus.
E saibamos, crentes e ateus,
Que só há “até logo”, não “adeus”.

Teia de apagados ou acesos faróis,
Todos um é o que somos nós.

NÃO TENHO RÓTULOS


Cal Ribeiro e Bené Lins


Não tenho rótulos
Não uso óculos
E a minha lógica
É um paradoxo

Esse meu mundo é uma metáfora
De uma física que é quântica
E uma energia que é quálica
Realidade holográfica

Sou uma mônada
Quântica e quálica
Energia e informação
É a minha mágica

A minha estática é dinâmica
E minha estética é poética
A minha ética é cósmica
E minha ótica é galáctica.

Cais e sais


Gustavo Barros, Dilton Borracha, Zanomia, Cal Ribeiro e Bené Lins



Nós somos da terra os sais,
Como o mestre já nos disse.
Cheios de cal, somos cais,
Aquarela de Henri Matisse

Também somos porto, cais,
Índios-afro-portugais,
Todos os tons do arco-íris
Somos sons, terra brasilis.

No céu, na terra, ar e mar,
Os Cais e sais já vem vibrar,
Nos sons da onda, nas ondas do som
Nos sons da onda, nas ondas do som (bis)

Pinceladas musicais,
Cais e Sais, amor e paz.
Pintam cordas de cor neon
E assimilam o tom com som (bis)
Om, om, om...